terça-feira, 17 de março de 2015

Infância, colorismo e autoestima

Olá crespxs, tudo bem?
Hoje comigo as coisas não estão tão bem assim. :/

 
"É incrível como estar no lugar certo (ou errado) na hora certa pode mexer tanto com a sua cabeça. 
 Ontem eu estava indo ao mercado e no meio do caminho passou um ônibus cheio de alunos do ensino fundamental (5ª e 6ª série) que estavam voltando da escola. O ônibus fez uma parada e um dos alunos me viu.
 Eu tinha acabado de chegar de um passeio, e não sendo convencida, eu tava gata: roupa bonita, maquiagem no lugar, e o black divando super volumoso.
 É. Eu estava bonita. Mas não pra aquele garoto: ao me ver, ele apontou, gritou, e eu pude ouvir muitas muitas vozes gritando e debochando da minha aparência.

O que para uma pessoa de 20 anos não é motivo pra ficar chateada. 

 Mas aquela gritaria e todas as risadas me fizeram lembrar de uma infância muito difícil, onde episódios como esse, nem sempre tão descarados, aconteceram com frequência. 

 Aconteceu quando uma das alunas do prézinho chamou as amiguinhas para rir do meu cabelo.
 Aconteceu quando eu estava no clube e aquela menina veio me dizer que os dois meninos ali atrás estavam me chamando de preta e rindo de mim.
 Aconteceu quando eu comecei a crescer e enquanto minhas amigas recebiam olhares apaixonados, eu recebia olhares de desprezo. 
 Aconteceu quando num dia de chuva TODOS os cabelos escovados de TODAS as meninas se transformaram de liso comportado em obra abstrata, mas UNICAMENTE o meu deu motivo suficiente pra aquele garoto apontar, gritar, e fazer todos os outros debocharem.

Aconteceu tantas vezes.

E por isso desaprendi muita coisa.  Me esqueci de como é ter uma autoestima alta. Me esqueci de como é se sentir bonita. Me esqueci de como soa um elogio, ou de vez ou outra, acreditar em um. Me esqueci de como é não se sentir diferente.

 Mas devo admitir que depois das primeiras vezes você se acostuma, e  por fim você aprende. Você aprende a ignorar. Você aprende uma maneira daquilo não te atingir, e até mesmo de entrar na brincadeira.
 Eu aprendi que passar o tempo sozinha não é nada mal. Aprendi também a não me importar com a "opinião" alheia. Aprendi que ser a mais escura e  talvez a mais excluída tem um nome: colorismo.

E até hoje aprendo.

Aprendo que devo lutar com unhas e dentes pelo que quero. 
Aprendo que a minha felicidade não depende da aprovação dos outros.
Aprendo que eu não era neurótica por achar que a minha pele tão escura me privava de privilégios. 
Aprendo a ser forte.
E aprendo que ainda tenho muito a aprender."


Beijos da nega
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